escolha do vinho

Brasileiro com mais de meio século de vida, grande parte apreciando boas bebidas e conversas. Acredito que grande parte dos problemas sejam mais facilmente resolvidos com respeito e uma boa bebida. Saúde a todos.

Sou do tempo em que a apresentação era essencial em um primeiro contato, então vamos a ela.

A partir da juventude comecei a pegar o gosto pelas bebidas, dos mais variados tipos e assim continuo até hoje.

Creio que como a grande maioria, experimentei vinhos que obviamente não eram os melhores, o que acabou por produzir algumas ressacas inesquecíveis, principalmente aquelas decorrentes do tipo suave.

Sim, experimentei vinhos coloniais das mais variadas espécies, bebi algumas jarras de vinho de pêssego, colecionei garrafas coloridas do Liebfraumilch, dentre outros menos cotados.

Sem entrar na discussão se os itens acima seriam ou não vinhos, tecnicamente falando, suponho que grande parte dos atuais apreciadores de vinho, tenham tido experiências semelhantes.

Mas entendo também que dificilmente alguém que não tenha tido em casa o hábito de beber bons vinhos, tenha escapado dessa via crucis, e o mais incrível é que mesmo trilhando esse caminho várias pessoas se mantenham no consumo de vinhos ou assemelhados de menor qualidade, não é verdade?

 

Sim! E qual o problema?

O ponto que tenho discutido com amigos de copo é que a culpa pode ser nossa, considerando que somos bebedores de vinhos de qualidade – o que não é uma verdade absoluta nem relativa.

Pessoas leem Paulo Coelho e acham a melhor literatura disponível, não se aventurando em clássicos ou naqueles livros/autores que a crítica reputa como essenciais.

Falo do Paulo Coelho até com gratidão, minha filha adquiriu o hábito da leitura com ele e a partir disso passou a ler uma infindável gama de autores e temas, é inegável que as produções do Paulo Coelho foram imprescindíveis para isso, como imagino que foram para uma geração.

Será que o vinho colonial não poderia ser visto como a porta de entrada para o mundo dos vinhos?

Porque temos que criticar que gosta de vinhos suaves ou demi sec?

Por que temos que insistir que ele experimente um vinho seco, encorpado, com aroma de frutas selvagens vermelhas, notas de baunilha e alecrim e retro gosto de figo?

Depois desenvolvemos melhor esse tema, mas acredito que mais de 2/3 dos bebedores de vinho sejam como eu, nunca conseguiram encontrar metade de todas as notas que vemos nas fichas técnicas dos vinhos.

Será que aqueles leitores que curtem apenas Paulo Coelho e outros romancistas são menos leitores que aqueles que já leram Lusíadas ou Odisseia, por exemplo?

Bebidas são instrumentos que deveriam facilitar o convívio e a discussão de ideias divergentes.

Não sejamos chatos a ponto de nos privar da companhia de alguém só porque prefere vinho de pêssego.

A propósito, dia desses experimentei um vinho azul uruguaio…

Ainda na linha de tentar facilitar as coisas ou entender melhor esse universo, gostaria de dar um depoimento que acredito exemplifique essa chatice dos entendidos em vinhos.

Visitei recentemente uma cidade e após 8 horas de viagem chegamos ao hotel.

Como ainda era cedo perguntei ao pessoal onde ficava uma certa vinícola e fui informado que era próxima ao hotel e que ainda tínhamos umas duas horas até o fechamento dela.

Pois bem, fui até lá com um amigo que estava bem gripado naquele dia, mas também queria conhecer o local.

A loja é bem interessante e agradável, mas dado o cansaço da viagem e o estado do meu amigo resolvi ir direto ao ponto e perguntei a atendente qual vinho eles consideravam o melhor exemplo da capacidade produtiva deles.

Pois bem, deu-se então início aquele discurso que me remeteu aos garotinhos no Nordeste que ficam próximos aos pontos turísticos que vendo um turista se aproximar iniciam um discurso ou recital que não deve ser interrompido, sob pena de ser necessário o reinício da apresentação.

A tendente da vinícola discorreu sobre as características do solo da região, do tempo em que as videiras estão produzindo, da amplitude das temperaturas e umidade, dentre vários outros aspectos que para mim naquele momento pouco importavam.

Como ao final do discurso não houve qualquer menção a qual seria o vinho que eles consideravam melhor, praticamente repeti a pergunta com outras palavras.

Agora a atendente pegou um mapa semelhante ao genealógico para me explicar a origem e parentesco das uvas.

Como não houve nenhuma indicação de vinhos resolvi abreviar o processo e comecei a escolher algumas garrafas onde considerei basicamente o preço dos mesmos.

Já no caixa a mesma atendente me informou que uma das garrafas que estava levando era produzida com uvas colhidas na maior altitude aqui no Brasil.

Perguntei no que isso interferia no sabor e ela convicta me disse que as uvas utilizadas naquele vinho eram plantadas no terroir de maior altitude aqui no Brasil – senti que o termo terroir foi a tentativa dela de tentar me dar um pouco de cultura, paguei e fui embora.

 

No dia seguinte fui a uma cervejaria na mesma cidade.

Eles tinham uns 20 tipos de cerveja e enquanto dava uma olhada neles a atendente chegou e perguntou se podia ajudar com alguma indicação e perguntou qual minha preferência.

Disse a ela que gostava de cervejas encorpadas.

Ela respondeu: Encorpada de sabor ou de teor alcóolico?

De sabor, respondi.

A resposta dela foi: Temos esses 4 tipos que acredito se encaixem no que está procurando. Duas delas com sabor e aroma mais defumados e outras duas um pouco mais amargas, sendo que uma delas com sabor mais suave ao final.

Bingo. Nada de retro gosto, tempo de maturação, origem dos componentes, terroir, etc.

O resumo dessa história é que acredito que muitas pessoas que apreciam vinhos não precisam de uma aula técnica cada vez que entram em uma loja de vinhos, talvez a abordagem possa ser simplificada.

Conheço algumas pessoas que evitam pedir vinho para acompanhar a refeição por conta daquele ritual de cheirar a rolha (a propósito, alguém consegue identificar algo que seja diferente de cheiro de rolha?), experimentar um primeiro gole e liberar para que seja servido aos demais.

Aqui o processo poderia ser facilitado se o Sommelier informasse que já verificou o vinho e, caso o cliente queira, faz-se o ritual.

 


 

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